quinta-feira, 23 de maio de 2013

A REBENTAR PELAS COSTURAS

Temos usado o olhar atento e perspicaz de George Orwell, uma das suas obras que o imortalizaram: [O Triunfo dos Porcos]. Vejamos um pequeno excerto desse texto genial: {(...) E, no fim, ouviu-se um tremendo ladrar de cães e o cantar estridente do galito preto e surgiu o próprio Napoleão, magestosamente erecto, caminhando sobre as patas traseiras, lançando olhares arrogantes para um e outro lado, com os cães saltitando à sua volta.
Na pata trazia um chicote.
Fez-se um silêncio de morte. Espantados, aterrorizados, todos muito juntos, os animais observavam o longo cortejo de porcos marchando vagarosamente pelo pátio. Era como se o mundo se tivesse virado de pernas para o ar. Depois, passou o primeiro choque e, apesar de tudo - apesar do terror dos cães e do hábito, desenvolvido ao longo dos anos, nunca se queixaram, nunca criticaram, acontecesse o que acontecesse - poderiam ter pronunciado alguma palavra de protesto. Mas, precisamente nesse momento, como que a um sinal, todos os carneiros desataram a balir altíssimo:
- Quatro pernas bom, duas pernas melhor!
Quatro pernas é bom, duas pernas melhor!
Gritaram durante cinco minutos, sem parar. E, quando acalmaram a ocasião de protestar tinha passado, pois os porcos tinham regressado a casa.
Benjamim disse para Clover:
- A minha vista anda fraca, puxando-o, até à parede do outro lado do celeiro onde estavam escritos os 7 mandamentos. Mesmo em nova, não poderia ter lido o que ali foi escrito. Mas parece-me que a parede está diferente. Os 7 Mandamentos são os mesmos de outrora, Benjamim?
Pela primeira vez, Benjamim consentiu em quebrar a sua regra e leu-lhe o que estva escrito na parede. Não havia lá nada, excepto um único mandamento. Dizia:
TODOS OS ANIMAIS SÃO IGUAIS MAS ALGUNS SÃO MAIS IGUAIS DO QUE OUTROS.
Depois disto ninguém estranhou que no dia seguinte, todos os porcos que supervisavam o trabalho da quinta levassem chicote...}

Como esta prosa se encaixa nalguns aspectos da nossa sociedade. Como se excaixa, responde-nos o eco, que soou além!
[Formação de centenas de Médicos em risco] é o título de notícia inserta no JN de 22.05.2013.
Mas não é caso único. Foi notícia que se repete durante o dia com a inevitável presença do Bastonário dos Médicos a lembrar-nos o óbvio: não precisamos de tantos Médicos; já esqueceram os "numerus clausus", impostos durantes anos e anos!?
Não o disse expressamente, mas depreeende-se do seu ar agastado, como quem vai tomar um purgante e lhe está a prever os resultados.
Quem é que não quer ser doutor de médico, num país, no qual reina a democracia e todos os animais são iguais, com a excepção de haver alguns que são mais iguais, como diria George Orwell, nos seus 7 mandamentos resumidos a um.
O paradigma da medicomania está esgotado.
A "crise" interna e externa vai lembrando tímidamente que é preciso dar mais afazeres aos Enfermeiros e retirá-los de perto dos Médicos, que devem estar avençados, porque não têm apetência para funcionários, nem aqui, nem noutro lugar qualquer que seja.
As UCC seriam nos CSP a organização ideal, como já são no mundo e os "médicos de família" atenderiam como os especialistas, os doentes que os Enfermeiros lhes mandassem, como já atendem os oftalmologistas e outros especialistas os doentes que os médicos de família lhes mandam, para que estes lhes resolvam, com as suas competências, os problemas que têm, na sua área especializada.
Especialistas são os médicos de família. Só não percebemos é por que não têm o mesmo modo de actuar que os outros especialistas.
Os países, onde se consomem os recursos mais racionalmente e onde não é possível ceder a interesses de grupo ou de "lobbies", já entregaram os CSJ aos Enfermeiros sem que duvidassem das suas competências que vão até onde o Enfermeiro toma consciência dos seus limites e solicita a intervenção de outros especialistas, como os médicos de família, já fazem, de modo excessivamente dispendioso e resultados banais.
E esta questão não é despicienda e vai ser tratada convenientemente.
Se os governantes tiverem o respeito suficiente pela saúde dos cidadãos, para com os transviados nós estaremos atentos para os informar do caminho certo, ainda que a "via seja dolorosa".
Só assim se poderá falar duma autêntica reforma dos CSP, mas que não seja um simples arranjo de mais do mesmo, mas ainda para mais dispendioso. 

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