terça-feira, 30 de julho de 2013

BRINCAR COM COISAS SÉRIAS

Quando temos unidades de saúde abertas para enganar o povo;
Quando temos governantes surdos e insensíveis para as nossa chamadas de atenção;
Quando desbaratamos recursos para satisfazer exigências dos instalados no SNS com uma lógica pouco ou nada racional;

Não venham falar em reforma do SNS e dos Hospitais, pois estamos em condições de garantir que será para piorar, ainda mais, a situação.
Vejamos um diálogo entre uma Enfermeira duma Unidade de Saúde em vias de, um dia, se vir a transformar numa USF, segundo o protocolo de entendimento da FNAM e do Sr. SEAMS.

Na praia, a criança feriu-se;
2 "pontarecos" com seda atraumática seriam mais que suficientes, para resolver o problema.
A Enfermeira diz que isso não é com ela e que terá de ir para o hospital, porque não tem Médico na Unidade de Saúde.
O pai da menina insiste com a Enfermeira e esta teima em dizer que aquilo não é com ela e não tem nenhum médico na Unidade de Saúde;
Mas faltou-lhe dizer que também não tem seda nem o demais material para fazer a sutura que está perfeitamente ao alcance das suas possibilidades e capacidades. Mesmo que tivesse vontade de fazer isso, não tinha material.
A culpa não é só dos Médicos; também é nossa em não agirmos em conformidade com as necessidades da população.
O pai da menina, lá foi dizendo que a avó é Enfermeira e que sutura, nas mesmas circunstâncias. Ele, o pai, é testemunha presencial disso.
Isto faz vir à minha memória uma história com um professor da Faculdade de Medicina do Porto, Abel Tavares de seu nome, que foi uma espécie de Director Clínico, no tempo em que o sistema era o das Caixas de Previdência.
O Enfermeiro era eu próprio, chefe do Serviço de Urgências do HSJ. onde nessa altura, os Enfermeiros é que suturavam a maior parte das pequenas incisões, como as circunstâncias impunham.
Não havia dinheiro para brincar com coisas sérias, nem e muito menos com as pessoas e a sua saúde.
Precisava da seda para o posto das Caixas encravado em Sandim. A população não se deslocava ao hospital, no Porto e a ferida ficava a infectar. Não era um capricho Médico, nem uma petulância do Enfermeiro: era uma necessidade real de resolver problemas reais, correctamente. Como é o caso, exceptuando a facilidade maior de deslocação.
Precisava da autorização do Director Clínico, para requisitar a seda, que quase ia  castigando o Colega dele, Médico do posto de Sandim, que teve a franqueza de atestar que o Enfermeiro tinha muito jeito para suturar. Não havia a pressão de conseguir o pleno emprego aos Médicos inventando...
Já nessa altura, foi um escândalo um Enfermeiro competir com ilustres cirurgiões, embora ensinasse vários ele e outros Enfermeiros, os Médicos a darem os tais primeiros pontarecos. E ninguém se sentia diminuído ou crescido por isso e com isso.
O Director Clínico veio com o esfarrapado argumento que "num caso de fractura de crânio os pontos podem prejudicar, porque mascaram uma situação mais grave.
Nesse caso retiram-se os pontos, respondi.
Esquecia esta sumidade cirúrgica, que, no caso de haver fractura de crânio, o Enfermeiro também tinha recomendações a fazer, à vítima ou ao seu tutor, para no caso de certos sintomas ir ao hospital, pois nem todas as pancadas com a cabeça ou na cabeça são necessariamente fracturas de crânio. Convém não esquecer a a sua experiência com politraumatizados nas Urgências de que era Enfermeiro Chefe.
Não teve outro remédio senão autorizar o fornecimento da seda atraumática.
Mas isto foi na década de 70; estamos em 2013.
Escolas de Enfermagem, mostrem o que valem.
Responsáveis políticos, mostrem que sabem administrar e deixem de brincar aos lobbies médicos.
Certo?
 Correcto? 
Vamos deixar de brincar com coisas sérias!

1 comentário:

  1. Ora muito bem.Fazer a sutura para quê? Não me pagam como licenciado e muito menos como especialista.
    Faze-lo, ainda hoje pelo dinheiro que me pagam não trouxe qualquer reconhecimento e muito menos do ponto de vista economico.

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