quinta-feira, 3 de abril de 2014

TURISMO DE SAÚDE

Turismo de saúde e bem-estar pode render mais de 400 milhões de euros por ano

Operar ingleses às cataratas, colocar próteses da anca e do joelho em doentes franceses e alemães pode tornar-se uma prática corrente dentro de alguns anos em Portugal. No turismo médico, deve apostar-se primeiro em sete países europeus, com o Reino Unido, a Alemanha e a França à cabeça, recomendam os autores de um estudo que é apresentado esta quinta-feira.
As termas e os spa são uma das potenciais fontes de receitas PAULO RICCA
São grandes as esperanças dos que acreditam que o turismo de saúde e bem-estar pode passar a ser uma importante fonte de receitas para Portugal. Um estudo encomendado pela Associação Empresarial Portuguesa (AEP) – Câmara de Comércio e Indústria e pelo Health Cluster Portugal (HCP), avança com argumentos e números que fazem sonhar: o turismo de saúde e bem-estar tem potencial para contribuir com mais de 400 milhões de euros por ano para a economia portuguesa, em 2020.
O grosso das receitas será proveniente do turismo de bem-estar (SPAs, talassoterapia e termas), projectando-se para o turismo médico uma contribuição bem mais modesta, que passará dos 19 milhões de euros, em 2016, para 94,6 milhões de euros, em 2020, estimam os consultores que assinam o estudo. O relatório  “Definição da estratégia colectiva para o sector do turismo de saúde e bem-estar português” vai ser apresentado esta quinta-feira numa conferência sobre o tema, em Leça da Palmeira.
Depois de terem seleccionado procedimentos médicos e avaliado os respectivos preços em vários países europeus, os consultores da Accenture e Neoturis concluem que há áreas em que Portugal pode ser competitivo. No turismo médico, considerando os preços médios praticados cá e a abertura dos doentes estrangeiros para serem tratados fora do seu país, recomendam a aposta estratégica em sete países europeus, numa primeira fase. O Reino Unido, a Alemanha, e a França são os principais mercados, mas a lista inclui ainda a Espanha, a  Holanda, a Suécia e a Áustria.
Percebe-se, porém, que os custos dos tratamentos são elevados em Portugal. Nas cirurgias às cataratas, por exemplo, o preço praticado cá (2 500 euros) é superior aos valores cobrados em quase todos os países considerados. Um alemão dificilmente virá a Portugal para ser operado às cataratas, porque o custo da operação no seu país é menos de metade (980 euros).  Até na Suécia e na Áustria  as cirurgias às cataratas são mais baratas (1900 e 2000 euros, respectivamente), na França o preço é semelhante, e só mesmo no Reino Unido é que esta intervenção é mais cara (2940 euros).
Nas angioplastias coronárias, o custo médio em Portugal (11 mil euros) também não atrairá doentes alemães, espanhóis ou franceses, apenas britânicos. Nas prostatectomias (remoção de uma parte da próstata, que custa quase 5 mil euros cá) acontece o mesmo. Em contrapartida, nas artroplastias (colocação de próteses) da anca e do joelho os preços médios praticados em Portugal são competitivos em todos os países considerados (à excepção de Espanha, onde as artroplastias do joelho são mais em conta), e o mesmo verifica-se nas colecistectomias (remoção da vesícula biliar).
A grande vantagem de Portugal no turismo médico não passa pela oferta de serviços “low cost”, admite Joaquim Cunha, director-executivo da Health Cluster Portugal, o pólo de competitividade da saúde que junta vários parceiros do sector e que lançou com a AEP o projecto “Healthhy´n Portugal” já em 2012.  A ideia é estruturar a oferta em pacotes complementares que, além do procedimento clínico propriamente dito, incluam as viagens e acomodação, até porque os custos de transporte e alojamento “são muito competitivos”.
O estudo inclui, aliás, exemplos de pacotes na artroplastia da anca que vão desde o mais básico, com a duração de quatro dias e que inclui a cirurgia, as viagens e o alojamento e a reabilitação motora, até ao pacote “premium”, com a duração de 60 dias, e que engloba,  além de tudo o resto, assistência linguística, sessões de termas ou SPA, turismo religioso e mesmo golfe.
Alemães serão principais clientes de turismo de bem-estar
No turismo de bem-estar, os principais mercados identificados são os Estados Unidos, a Alemanha, o Japão, a França e a Áustria. Mas para os cálculos das receitas são de novo considerados os sete países europeus seleccionados. No cenário base, em que  se define uma quota de 4% do mercado total estimado, é da Alemanha que resulta metade da receita global, 153 milhões de euros. Segue-se o Reino Unido, com perto de 56 milhões de euros, e a França, com mais de 28 milhões. No total, no turismo de bem-estar as receitas potenciais estimadas ultrapassam os 314 milhões de euros.
Outra área analisada é a do chamado turismo médico proactivo. Aqui, de novo, há tratamentos em que Portugal não parece ser competitivo, como é o caso da infertilidade. Em contrapartida, na estética, fazemos rinoplastias a preços mais baixos do que todos os países considerados (aqui, além dos sete referidos, são incluídos a Bélgica, a Lituânia e a República Checa). Este último país oferece, porém, preços mais baratos nas redução do peito, nos facelift e nas abdominoplastias. Na odontologia, somos competitivos nas extracções dentárias simples e nas próteses em acrílico, mas a Hungria, que se especializou nesta área, pratica preços mais baixos nos implantes dentários.

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