sexta-feira, 5 de setembro de 2014

HISTÓRIA DA ENFERMAGEM [ 8 ]



A ENFERMEIRA DÁ UMA IMPORTÂNCIA ESPECIAL: ÀS NECESSIDADES, DESEJOS E BEM ESTAR DOS DOENTES. É DILIGENTE, OBSERVADORA E RECEPTIVA NO PROCESSO DOS CUIDADOS


OS CUIDADOS AOS DOENTES NOS POVOS PRIMITIVOS


É provável que algumas das ideias primitivas relacionadas com o tratamento médico e os cuidados de Enfermagem foram adquiridas através da observação dos animais.
Ainda que a alguns seja difícil imaginar que os procedimentos médicos e de Enfermagem mais básicos tenham um origem pré-humana, há indícios na história natural que apoiam tal premissa.
os primeiros vestígios de amor paternal e de ajuda mútua procedem dos pássaros e outros animais.
Concretamente, os animais inferiores submetem-se a tratamentos médicos e cirúrgicos adequados quando é necessário, cuidam-se a si próprios, quando estão feridos ou doentes e atendem-se mutuamente (Berdoe, 1983).
Com o fim de disfarçar os estragos dos males e doenças, o homem primitivo teve que aprender a proteger-se a si próprio e a encontrar meios de tratamento e cura. Durante este período da história, o homem estava muito mais perto da natureza e movia-se no  reino animal sem medo. Observava avidamente as práticas dos animais face às suas doenças. Inclusive os animais tentam aliviar a dor e eliminar as causas da infecção.
Lambem as feridas para limpá-las; comem ervas, folhas de várias espécies vegetais, que actuam como eméticos e purgantes; mergulham as feridas na água e realizam outras práticas que têm efeitos significativos sobre o seu bem estar.
Mas o homem primitivo não pôde encontrar tratamento para todas as doenças através do processo de observação.
Igualmente, o dito sistema só lhe permitiu identificar as substâncias naturais mais evidentes que produzem doenças. Sem dúvida, consciente por instinto de que existiam outros factores causadores de doença, o homem se aventurou na procura de novas respostas.
A sua estreita intimidade com a natureza permitiu-lhe mergulhar nas infinitas formas de vida sobre as quais não possuía qualquer tipo de conhecimento científico. O homem atribuía a todas estas formas as qualidades que reconhecia em si mesmo. Todos os objectos naturais (pedras, rios, árvores, montanhas, o vento) estavam vivos ou animados e possuíam uma alma  (psique, anima). Assim podiam explicar-se os fenómenos naturais, inclusiva os que causavam desastres e doenças. Esta crença básica no "animismo" abriu a porta a um mundo, quiçá, maior na mente do homem e da sua imaginação.
A incorporação da crença em espíritos, bons e maus, influenciou, decisivamente o desenvolvimento das práticas relacionadas com os tratamentos e remédios. As ideias de uma natureza oculta, as superstições, vincularam-se fortemente à etiologia das doenças, já que o homem primitivo aceitava a origem sobrenatural da maioria dos acontecimentos, incluindo as doenças.
Supondo que o homem habitava dois mundos; o visível e o invisível, apareceu uma combinação de práticas ocultas e empíricas que criou o clima adequado ao uso da magia. O mundo sobrenatural podia afectar e, de facto afectou, o homem primitivo.
Dado que a causa dos males e doenças se atribuía aos espíritos malignos, a cura tentava-se actuando sobre eles. Em consequência, surgiu um grande de conhecimento tribal, que incluía encantamentos, ritos, rituais e esconjuras.
Com o tempo, certos tipos de sintomas foram atribuídos à influência de espíritos concretos e idealizaram-se formas de expulsá-los. O objectivo básico consistia em fazer com o corpo do doente fosse considerado uma morada  desagradável para o espírito. Isso era conseguido através de várias técnicas, algumas das quais foram a base de numerosas práticas actuais.
Com o fim de desalojar o espírito maligno golpeava-se repetidamente a área do corpo possuída. (Existe a possibilidade de a prática da massagem derive desta técnica.)
As plantas que tinham efeitos desagradáveis eram utilizadas para fazer bebidas medicinais repugnantes aos espíritos. A expulsão podia produzir-se de duas formas:
por via intestinal ou pela boca; deste modo se escolhiam e administrava as ervas adequadas que actuariam como purgantes ou como eméticos. Os espíritos malignos que se instalavam na cabeça deviam ser expulsos por orifícios feitos no crânio.
Os crânios trepanados de homens primitivos constituem uma prova de medida extrema.
O fogo, os instrumentos quentes e as cataplasmas serviam como contrairritantes para queimar os espíritos.
Os banhos frios, a transpiração forçada, o jejum, os maus cheiros e os ruídos ensurdecedores eram usados com a intenção de expulsar os demónios dos corpos possuídos.
A erudição mágica que se foi acumulando, tornou-se demasiado complexa para que pudesse ser compreendida pelo homem simples da tribo. Assim, indivíduos eleitos, que supostamente possuíam uma percepção especial ou estavam em contacto íntimo com os espíritos, dedicaram-se a dominar e interpretar esta sabedoria em benefício da tribo. Estes homens e, às vezes mulheres, costumavam passar por um período de preparação, tão grande quanto difícil.
Além disso, é possível que viveram alguma experiência mística, depois de semanas de isolamento em comunhão com os espíritos, ou que se tenham recuperado duma doença ou lesão grave. Com o decorrer do tempo, estes "curandeiros", "feiticeiros" ou "bruxos", converteram-se nos guardiões e divulgadores do conhecimento esotérico.
Além disso a possessão de poderes sobre a vida, outorgava-lhes um lugar de prestígio, pelo que ficavam separados e acima do resto da da tribo. "Foi assim que começou a especialização na arte de curar (Shryock, 1959).

O curandeiro ocupava-se principalmente da ciência e os procedimentos ocultos, ainda que sem dúvida era uma autoridade em medicina popular tribal.
Na maioria dos casos o problema não radicava em dar um nome à doença mas em encontra-lhe um remédio.Isto obrigava a identificar uma causa mágica para poder vencer o mal.
O curandeiro também se encontrava frente a outro aspecto do oculto relacionado com a cura das doenças, ou dissipação das adversidades. Tinha de desenvolver a habilidade de utilizar a sua magia para o bem e para o mal.
A evolução destas duas funções independentes deu lugar à magia negra e à magia branca.
A magia branca, que invocava a ajuda dos bons espíritos para afugentar os males , praticava-se por motivos benéficos.
A magia negra, de fins hostis e destrutivos, empregava-se para levar o desastre e a enfermidade aos inimigos. Isto conseguia-se com a ajuda dos maus espíritos, os venenos e a malevolência.
Estas práticas organizavam-se em cerimónias de carácter ritual que acabaram por adoptar um tom religioso. O resultado desta união foi a clarificação do curandeiro "pessoa sagrada". A medicina primitiva converteu-se numa mistura de magia, religião e remédios naturais.
Segundo algumas fontes, o curandeiro passou a ser sacerdote-médico (Jamieson e Sewall, 1950; Dolan, Fitzpatrick e Herman, 1938). Outros autores opinam que se formaram castas superiores e inferiores entre curandeiros, correspondendo a sacerdote-médico, na medida mais elevada (Dock e Setwart, 1925).
Não obstante, o que aí está claro é que ambos os tipos de curandeiro lidavam com questões da vida e da morte. e eram autoridades em matéria da sabedoria tradicional (Atenção aos costumes e direito consuetudinário, que vem dar conteúdo às Ordens Profissionais).






A omnipotência destes primeiros curandeiros realizava-se com o uso de estranhos disfarces, cerimonias elaboradas, signos místicos, encantamentos, fetiches(amuletos e talismãs). As peles, úngulas de animais, penas, ervas cornos e outros objectos adornavam a indumentária cerimonial. O dramatismo e o mistério exacerbados mantinham os observadores aterrorizados perante o curandeiro.
As cerimónias podiam durar horas ou dias e, com frequência, incluíam danças, cantos e música de instrumentação.
A habilidade do curandeiro para espantar os espíritos malignos ficava demonstrada por estes adereços.
Há um relatório dos procedimento empregues por um curandeiro até à década de 1830.

{...o seu corpo e a sua cabeça estavam completamente cobertos com a pele de um urso amarelo, e a cabeça deste (....) servia-lhe de máscara; as enormes garras do urso pendiam das suas mãos e tornozelos; com uma mão agitava um chocalho espantoso e com a outra brandia a lança medicinal ou varinha mágica; o ruído estrondoso e dissonante daquele, juntava os alaridos e os saltos selvagens e surpreendentes do índio, aterradores grunhidos e lamentos do urso pardo, em encantamentos exclamatórios e guturais aos bons e maus espíritos. Tudo isso em nome do seu doente, que se retorcia e queixava na agonia, enquanto ele dançava à sua volta, saltava por cima dele e empurrava-o, bamboleando-o em todas as direcções. (Catlin, 1926; pág 46}



(continua)

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