quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

NOMEAÇÃO DE BRUNO


Despacho n.º 15579/2015
[O Secretário de Estado Adjunto e da Saúde, Fernando Manuel Ferreira Araújo.]


1 — Ao abrigo do disposto na alínea c) do n.º 1 do artigo 3.º, nos n.os 1 e 2 do artigo 11.º e no artigo 12.º do Decreto -Lei n.º 11/2012, de 20 de janeiro, designo como Técnico Especialista do meu gabinete, o licenciado Bruno de Noronha Gomes, enfermeiro do Centro Hospitalar Lisboa Norte, EPE. 
2 — Para efeitos do disposto na alínea d) do artigo 12.º do Decreto- -Lei n.º 11/2012, de 20 de janeiro, o designado desempenhará funções na área da implementação de políticas de saúde.
3 — O estatuto remuneratório do designado é o de adjunto, conforme o n.º 6 do artigo 13.º
4 — Para efeitos do disposto na alínea a) do artigo 12.º do Decreto -Lei n.º 11/2012, de 20 de janeiro, a nota curricular do designado é publicada em anexo ao presente despacho.
5 — Nos termos do n.º 3 do artigo 11.º do mencionado decreto -lei, o presente despacho produz efeitos a 6 de dezembro de 2015. 
6 — Conforme o disposto nos artigos 12.º e 18.º do supracitado decreto -lei, publique -se na 2.ª série do Diário da República e publicite- -se na página eletrónica do Governo. 17 de dezembro de 2015. — O Secretário de Estado Adjunto e da Saúde, Fernando Manuel Ferreira Araújo.

Nota curricular Dados Biográficos
Nome: Bruno de Noronha Gomes. Data e local de nascimento: 18/4/1982, natural de Paranhos, Porto. Habilitações e atividade académica Mestrando no Mestrado em Políticas de Desenvolvimento dos Recursos Humanos, ISCSP — UL, Lisboa;
Mestrando no Mestrado em Enfermagem de Reabilitação, Escola Superior de Enfermagem de Bragança, Bragança;
Pós -licenciatura de especialização em Enfermagem de Reabilitação, Universidade Atlântica, Oeiras; Pós -graduação em gestão em saúde, Escola Nacional de Saúde Pública — Universidade Nova de Lisboa, Lisboa;
Pós -graduação em direito da medicina, Centro de Direito Biomédico da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, Coimbra;
 Licenciatura em Enfermagem, Escola Superior de Enfermagem de Calouste Gulbenkian de Lisboa, Lisboa.
Percurso Profissional 2010 até ao presente: Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Reabilitação no Centro Hospitalar Lisboa Norte — Hospital de Santa Maria; 2004 até 2010: Enfermeiro de cuidados gerais no Centro Hospitalar Lisboa Central — Hospital Dona Estefânia;
Vice -Presidente da Federação Europeia de Associações de Enfermeiros;
Perito da Comissão Europeia no âmbito da revisão da “European Skills, Competences and Occupations taxonomy” (ESCO);
 Membro do Steering Committee do European Forum of National Nursing and Midwifery Associations;
Vice -Presidente do Conselho Diretivo da Ordem dos Enfermeiros no mandato 2012 -2015; Vogal do Conselho Diretivo da Secção Regional do Sul da Ordem dos Enfermeiros no mandato 2008 -2011.

TEMPO NOVO, ONDE TUDO SÃO BOAS FESTAS



Tempo Novo, onde tudo são Boas Festas
Seja o que for que necessite, nós damos-lhe! Dias de férias, aumentos de salários, cura para as varizes, dietas seguras, recapitalização da banca, o Benfica a jogar futebol, o regresso dos que emigraram, a partida dos imigrantes, o crescimento e o que mais for. Chegou a grande marca global que trata de si: o Tempo Novo
O Tempo Novo é um espaço que começa agora (em bom rigor começou há um mês, mas esteve em testes de aquecimento) e se estende até onde o deixarem. Tem uma característica que mais nenhum espaço tem: agrada a todos. E nesse sentido é a coisa mais parecida com o Paraíso na terra que Vexa pode encontrar!
Vexa ganha mal?
Teve salários cortados?
O Tempo Novo resolve!
Sofre de enxaqueca ou de más digestões?
No Tempo Novo encontra o remédio!
O dinheiro desaparece-lhe e sobra-lhe mês ao fim do salário?
Confie as suas poupanças ao Tempo Novo e verá que resolve a situação.
Anda a tomar mezinhas para o cálcio nos ossos e nunca mais lhe passa a artrite? Confie em Tempo Novo em cápsulas ou pastilhas solúveis em água e não se queixe mais!
O seu banco fechou e foi comprado por um grande banco que sacou uma pipa de massa para ficar com ele?
 Não há problema! Por maiores que sejam as suas poupanças, o Tempo Novo assegura-lhas.
Tem míldio na vinha, nemátodo no pinheiro e geada na hortaliça?
Nada que o Tempo Novo não possa dar combate até que tudo viceje na sua vida! Basta sulfatar com Tempo Novo que a coisa vai ao lugar!
O seu carro faz barulhos estranhos e o motor parece que tem pieira provocada por bronquite crónica?
No Tempo Novo arranja-se!
É Vexa que tem bronquite?
O Tempo Novo tem remédio para isso!
Vexa é tão pequenino como o nosso amigo Marques Mendes?
O Tempo Novo tem um programa de crescimento que o deixa do tamanho adequado!
Vexa queixa-se de ter um Presidente que parece uma múmia?
O Tempo Novo não se mete nisso, mas arranja presidentes a dar com um pau – dentro da nossa gama temos uns cinco e nenhum deles se chama Gama!
Vexa quer a TAP com bandeira, o metro com greves e os autocarros no Estado? É o que Tempo Novo quer, pois na nossa organização os seus desejos são ordens e o povo é quem mais ordena, logo a seguir ao Conselho de Administração.
Vexa tem uma grande esperança que tudo isto corresponda ao virar de página que lhe foi prometido? O Tempo Novo é o local ideal para virar a página e até para mudar de livro.
Quer mudar de vida?
Junte-se ao Tempo Novo, uma organização Costa & Associados com o apoio de Jerónimo & Martins que faz do Feira Nova, do Pingo Doce e do Continente e mais do Aki, do LeroyMerlin, do Sport Zone, da Decathlon, do Ikea, da Worten e da Staples, meras lojas de esquina.
Mais do que Boas Festas, o Tempo Novo quer satisfazer todos os seus desejos ao longo de muito tempo.
Disclaimer: Promoção limitada ao stock existente. Em certos casos podemos ter de recorrer a neo-liberais semi-fascistas para a concretização de algumas encomendas. (Comendador Marques  de Correia - in Expresso 27.12.2015)






IMPUNIDADE DOS LACRAUS DO INEM

Observatório de Proteção e Socorro da População
Artigo 74 de 15-12-2015
AS DENUNCIAS SOBRE A LOGÍSTICA DO INEM NÃO PARAM DE CHEGAR!
"Patrício Ramalho no centro da investigação?! Mas onde têm a cabeça?!
Toda a gente sabe que a D. Odete do Gabinete de Compras passa informação dos preços à Ametto Medical. Toda a gente sabe que a D. Ana Manso faz o mesmo.
Toda a gente sabe que o Eng.º Carlos Sadio e a Dr.ª Esmeralda dão cobertura a isto há anos, também tendo as suas preferências empresariais pessoais.
Luis Meira e Raquel Ramos sempre deram primazia à Physiocontrol (obrigando o INEM a um programa de DAE exclusivo) e foram sempre a congressos pagos por esta empresa.
O Eng.º João Paulo Canhão só comprava a empresas amigas e arranjava os carros dos amigos "dando" matriculas do INEM. E quem não entrasse no jogo era expulso da logística. Foi com ele que se adjudicaram as ultimas grandes compras e concursos à Futurvida.
Antes desta empresa era a Auto-Ribeiro.
E a área das auditorias e certificação, que entregue quase exclusivamente a elementos ligados ao sindicato, ou se paga ou não se passa no processo?
Não isentando Patrício Ramalho das responsabilidades que tiver, certamente será preciso abrir os olhos da investigação para o polvo dentro do INEM. Deste e doutros assuntos.
Só não interessam os doentes e os profissionais, pois continuamos a trabalhar em péssimas condições, na rua e no CODU.
Isto era uma balbúrdia total e parece que voltou a sê-lo!
Há muito que se sabe.
O Toga usava material para dar apoio a provas de carros.
Usavam os próprios carros de Serviço para os serviços privados.
Claro que ninguém quer controlo!
Nem os Lifepak 15 e os 12 se conseguem localizar todos!!!
Claro que o Dr.Paulo Campos nunca podia ser bem vindo a uma casa destas!!!!
É pena é que pagamos todos cada vez mais impostos por estas e por outras do género!
Enfim...
O Dr. Paulo Campos tentou acabar com isto, por isso correram com ele antes que alguém fosse preso."
O Observatório esclarece ainda que, não há nos seus artigos informativos a menor intenção de calunia, difamação, ofensa, ou de denegrir a imagem dos visados, apenas de informar o seu público / a justiça sobre os casos de que toma conhecimento, que averigua, ou sobre os quais entende emitir parecer, ou manifestação de preocupação. No caso do presente artigo, o Observatório limitou-se a publicar a denuncia recebida.

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Caros Associados,
Informamos que no próximo dia 28 de dezembro o STAE irá reunir-se com o Ex.mo Sr. Secretário de Estado Adjunto e da Saúde Dr. Fernando Araújo, onde serão debatidos os seguintes pontos:
- Apresentação de cumprimentos;
- Carreira do TEPH e sua publicação;
- Implementação das restantes competências dos Técnicos;
- Resolução do problema do Conselho Diretivo do INEM;
- Dividas aos Técnicos associados do STAE;
- Acordo Colectivo de Trabalho;
- Outros problemas que subsistem no INEM.
Abraço forte

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NB: Entreguem a chave ao ladrão, que tem acesso aos jornais e verão como a paz e a disciplina voltam a imperar.
Eu não digo mais nada porque a adriana diz que digo mal de todos...
Afinal ainda há mais eficazes do que eu.
Para o que uma mãe cria um filho!
José Azevedo

REVOLTA DA DOUTORA ROSINA



A REVOLTA DA DOUTORA ROSINA

A resposta que se impõe por Rosina Andrade: Mulher, Médica, Anestesista, inteligente, 

sagaz, dona de um humor mordaz e acutilante, companheira de muitas e muitas horas 

boas e outras não tantas menos boas nos cuidados aos doentes neurocriticos e seus 

familiares.
"JÁ CHEGA !



Na "ressaca" de uma consoada que pela primeira vez em 6 anos consecutivos pude 


festejar junto da família, reservo uns momentos para maçar quem quiser ler estes 


desabafos.


A maior parte dos meus amigos do FB conhece-me bem, porque muitos são mais do que 

amigos virtuais. Conhecem o meu modo de estar por vezes truculento, o espirito não 

alinhado e rebelde, a intolerância para o disparate e a displicência, a falta de 

corporativismo. Costumam resumir tudo na designação "mau feitio" . Os mais 

contaminados pelos eufemismos em voga dirão que tenho um baixo quociente de 

inteligência emocional. Não discordo do veredicto , prefiro ter mau feitio a ter mau carácter 

e o meu QI (não emocional) avaliado, em tempos de juventude, em 138 e 140, parece 

afastar-me dos níveis de debilidade e embotamento de raciocínio. 

Vem tudo isto a propósito.de que sendo médica me sinto diariamente agredida, insultada e 

difamada pelos profissionais do "eu acho" e do "eles deviam".


Para quem me conheça menos eu apresento-me ;


médica anestesista, 57 anos, 31 de profissão dedicada nos últimos 14 anos sobretudo à 

Neuro-anestesia, 10 dos quais no H. de S.José.

Para esclarecimento de muitos que transformam os honorários médicos em mistérios de 

sociedades secretas, a minha remuneração na categoria de assistente hospitalar 

graduada, 

com exclusividade na função publica, horário de 42 horas semanais (actualmente 39, pela 

redução anual de 1 hora após os 55 anos) é de 4107€ (preço hora ~ 22€) dos quais 

receberei no fim do mês ~ 2400 € (preço hora ~ 9€). A condição contratual de 

exclusividade 

obriga-me à prestação de mais 12 horas extra semanais se a instituição hospitalar o exigir

 ( e exige), resultando em 53 horas semanais, das quais 24 são um período continuo. 

Posso ser solicitada (e pressionada) a realizar mais horas semanais . Actualmente, face à 

carência de recursos na área de anestesiologia, perfaço em média 70 horas semanais (39 

em actividade de bloco operatório programado, o resto em urgência) e tenho 1 fim de 

semana por mês sem urgência, (nos meses mais compridos posso chegar à loucura de ter 

2 ). Por lei poderia não realizar trabalho nocturno a partir dos 50 anos e ter isenção total de 

trabalho de urgência a partir dos 55. Se eu e os meus colegas do H de Faro cumprirmos a 

lei do trabalho à risca, a urgência cirúrgica será encerrada porque restam 3 elementos para 

garantir o apoio anestésico 24/24h 7 dias por semana. Em resumo com o ordenado base e 

as horas acrescidas, recordo - 70 horas semanais- a minha remuneração fica em - 3800€. 

Acima da média dos ordenados em Portugal ? Sem dúvida ! Mas 70 horas representam a 

soma do horário de dois médicos sem exclusividade que é de 35 h.

Portanto meus senhores os malandros dos médicos trabalham ao fim de semana, mesmo 

quando a lei os isenta - e também trabalham nos feriados.

Perguntam alguns porque têm os médicos que ganhar mais do os maquinistas do metro, do 



que os policias, do que os licenciados em geral ;


Faço um pequeno desvio para falar das forças da ordem . Os que têm como dever zelar 

pela nossa segurança são talvez a única categoria profissional mais odiada do que os 

médicos. Desprestigiados, mal remunerados, sujeitos a julgamentos e em alguns casos 

penas de prisão quando cumprem a missão que lhes é profissionalmente exigida. Ridículo 

e afrontoso que um policia tenha que pagar o próprio equipamento, surreal que se 

responsabilize por danos em viaturas usadas em serviço. Não há salário demasiado alto 

para quem arrisca a vida para que a nossa esteja segura. Existem abusos, sabemos que 

sim, protestamos contra a caça à multa e algumas arbitrariedades de que somos vitimas. 

Mas imagino como será difícil ver uma e outra vez sair pela porta da frente o marginal que 

horas antes detiveram, não raramente arriscando a vida, e que um juiz, de interpretação 


mais liberal da lei, põe e liberdade.


Vivemos numa sociedade acéfala de faz de conta, de inversão de valores, do politicamente 

correcto, do fundamentalismo da tolerância, dos chavões momentâneos gritados em ondas 


emocionais bem orquestradas, em proveito próprio, pelos bonecreiros da política. 


Somos formatados para pensar o que os media querem que pensemos, sem contraditório, 


sem interrogação, adormecidos e embalados em conceitos pre fabricados


De uma era em que as saídas profissionais se estruturavam na adolescência, em que ser 

"bom aluno" nos permitia antecipar um vasto leque de escolhas, passamos para a era do 

"todos licenciados mas poucos com emprego" A iniciativa privada rejubilou com a 

possibilidade de fazer crescer universidades como cogumelos que vomitam todos os anos 

ufanos jovens diplomados em áreas de denominação exótica e cuja utilidade social carece 

de ser provada. Orgulhosos progenitores, que gastaram "uma nota preta" em 

mensalidades, exibem orgulhosos os filhos doutores a quem está reservado o desemprego, 

a emigração , o prolongar da agonia (deles e dos pais) em mestrados tão úteis quanto as 

licenciaturas ou, injustiça das injustiças, aceitar um trabalho abaixo do que é devido a um 


"licenciado".


A questão agrava-se com as licenciaturas modelo expresso, em que plantar uma árvore no 

dia da dita ou assistir a 3 comícios, pode dar direito a equivalência numa cadeira e com o 

padrinho certo, chegar até ministro ou primeiro ministro. Nivela-se por baixo no esforço, 


mas pretende-se nivelar por alto nos direitos.


Em Medicina não se obtêm créditos por colar pensos rápidos ou assistir a todas as 

temporadas do Dr. House. Prescinde-se de muitas saídas com os amigos, de muitas horas 


de divertimento. 


Num mundo governado pelos licenciados fast banaliza-se o trabalho acrescido que implica 

atingir os patamares cimeiros da elite universitária. Sim ELITE, sem falsas modéstias, sem 

sentimentos de culpa. 

Sim, sabemos o que nos espera, as horas de estudo intenso que se prolongam após a 

licenciatura. Sim, adoptamos o juramento de Hipocrates, de que muitos falam e poucos 

fora da área médica conhecem. Mas saberá quem nos diaboliza, como é morrer por dentro 

cada vez que temos que anunciar um desfecho trágico, saberá quem nos acusa de sermos 

frios e distantes, como exorcizamos os nossos demónios e os nossos medos, porque 

ninguém como nós entende a fragilidade da vida e o pouco que é necessário para que 

tudo se desmorone ? Entenderá quem tanto nos critica, como é recomeçar uma e outra 

vez esta luta desigual contra o fatalismo "do destino", da "sua hora" ou da "vontade de 

Deus" ?

Na ordem social das coisas considerava-se adequado remunerar de acordo com o 

contributo para o bem comum e a importância desse papel na sociedade. Hoje somos 

todos licenciados, mas um engraxador licenciado continuará a engraxar sapatos (e muita 

ciência é necessária na arte de engraxar), e um médico continuará a tratar doentes. Terão 

a mesma relevância social ? Terá a função de maquinista do metro, para usar uma 

comparação que li na imprensa, equiparação à actividade clínica ? Existe um facto muito 

simples que permite dar a resposta; qualquer médico em 6 meses, vá lá, um ano de treino, 


será um apto engraxador ou condutor de metro, o inverso é verdade? 


O endeusamento de que alguns falam vem da relação amor/ódio que a sociedade sempre 

estabeleceu com a classe médica. Como disse no inicio sou pouco corporativa e tenho 

plena consciência de que na minha, como em todas as profissões, existe muita erva 

daninha. Cometo erros como todos. Só não os comete quem não se aproxima dos 

doentes. Entre erro e negligência há um diferença abissal ; cometemos um erro, quando 

escolhemos uma estratégia terapêutica que julgávamos a mais adequada e a evolução 

revelou que não era, cometemos um erro quando equacionamos mal um diagnostico ou o 

timing de uma intervenção. Somos negligentes quando nos estamos nas tintas para 

reflectir sobre uma solução diagnostica ou terapêutica e optamos pelo que nos dá menos 

trabalho ou melhor nos remunera. O erro não deverá ser repetido se as mesmas 

circunstâncias ocorrerem. Chama-se experiência e não envolve só os mais novos. A 

negligência deve ser severamente punida. Convém não confundir estes dois conceitos. 

Neste tu cá tu lá da democracia porreiraça, temos um franja da população formada em 

Medicina na Anatomia de Grey, nos diagnósticos surreais do Dr. House e na pesquisa 

Googleniana frequente. Surgem assim os opinadores que restruturam uma e outra vez o 

SNS e que a darem-lhes poder acrescentariam ás leis que nos regem, uma alínea especial 

para a pena de morte a aplicar aos médicos.

Estranhamente não raro são elevados aos píncaros da fama, ao Olimpo dos deuses da 

medicina, clínicos a quem os pares não confiariam um panarício. São normalmente 

médicos de sorriso fácil, palmadinha nas costas, que gostam de introduzir uma nota de 

ansiedade acrescida antecipando diagnósticos catastróficos que "felizmente não se 

confirmam porque chegámos a tempo", que incutem no doente o sentimento de auto 

congratulação pela decisão tomada, pelo dinheiro investido, pelo acerto da escolha. São 

os médicos do "principio de enfarte" , do "principio de AVC"', do "principio de pneumonia", 

entidades patológicas desconhecias dos tratados universais de medicina mas que se 

perpetuam de boca em boca disseminando a fama e a simpatia do senhor doutor. São os 

médicos das longas prescrições e muito mais longas requisições de exames.

É diferente no SNS puro e duro, onde o sorriso se apaga ao fim de meia-hora de luta com 

sistema informático que pretende modernizar hospitais com servidores que mal 

aguentam a instalação do Tetris. Surgem os médicos carrancudos de farda amarrotada, 2 

números acima ou abaixo do normal, porque "é o que há", olharentos por privação de 

sono, resignados ás avarias e falta de equipamento numa gincana quotidiana para 

ultrapassar o "não há", não compraram" ou "já não vem mais". Que chatice ser neste antro 

para indigentes que são despejados os que optam pela saúde VIP dos hospitais privados, 

quando o plafond se esgota, as economias desapareceram e a casa já está à venda. O 

sorriso fácil esmorece e a palmadinha nas costas vira empurrãozinho firme. O enfarte já 

ultrapassou o principio e aproxima-se do fim.

Negam-nos até o podermos tratar doentes, agora tratamos "utentes" e até "clientes", nesta 

lógica de gestor que o hospital e o hipermercado se gerem do mesmo modo. Os resultados 

estão à vista.

Integrei como anestesista a equipa de neurocirurgia vascular de S.José, que só abandonei 

por ter mudado de hospital. Quem me conhece sabe que se necessário trabalharia de 

borla para salvar uma vida. Fi-lo muitas vezes noutros contextos. Tenho a certeza que 

todos os elementos que integravam a equipa o fariam também. O que o publico e os 

potenciais doentes têm que entender é que o que ficou destruído com os cortes cegos e 

surdos, foi a estrutura complexa que envolve o diagnostico e a terapêutica destes 

doentes e que não pode ser exigido a profissionais de saúde que literalmente 

paguem para trabalhar como acontecia com a equipa de enfermagem. Nenhuma 

disponibilidade e boa vontade isoladas, poderia remendar o assunto. A fatalidade 

que vitimou o jovem David era uma fatalidade anunciada. Em revolta, alguns de nós 

desejaram que tivesse atingido quem permaneceu cego e surdo aos avisos e às 

propostas, o Sr ministro ou o sociopata que o assessorava. Teria surgido mais cedo a 

solução.

Não, não somos bem pagos, pelo menos no SNS. e sim, somos uma profissão de elite. 

Com muito orgulho.

Um bom ano de 2016."

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(NB: grande Mulher e Grande Profissional.
Em meu modesto entender aqui está uma pessoa de quem passo e posso, com 

propriedade, dizer bem.
Faz parte daquele reduzido número de pessoas, que não tendo nascido para 

endireitar o mundo, quando ele lhes passa torto por perto, dão-lhe o seu pontapé.
Infelizmente não é muito numeroso, mas dá para apimentar, condimentando a 

comida reles que nos servem, às vezes, não poucas.
Vale a pena estar abrangido pelos seus votos de Bom Ano 2016. José Azevedo)

BTE - BOLETIM DE TRABALHO E EMPREGO 1020€ aos 1201€


PARA QUEM ESPERA A ATUALIZAÇÃO SALARIAL - DOS 1020 PARA OS 1201€

Colegas, 
há instituições que ainda não atualizaram os vencimentos dos CIT porque esperavam a publicação no BTE do nosso Acordo parcelar.
Chamamos a atenção de sermos classificados como clandestinos: "e outro", no BTE.
Mas são as normas da casa, que publica o BTE; afinal não somos o patinho feio, como chegámos a pensar.
O mais lógico seria nomear todos os negociadores como fizeram com as instituições, que estão incluídas uma a uma.
Temos de ser tolerantes, mas na devida proporção, por isso vamos pedir as causas desta coisa...
Com amizade,
José Azevedo

BTE DOS 1020€ AOS 1201€ -HARMONIZAÇÃO <clique aqui>

NB: Finalmente tivemos a confirmação que é norma do dono do BTE; só põem  o nome de um e depois "outro", simplesmente.
A FNAM e OUTRO foi o critério do ACT dos Médicos, disseram-nos.
No fundo, nós somos mesmo o outro que não se confunde, pois faz a diferença. (José Azevedo).

ATENÇÃO

Temos recebido com alguma frequência as perguntas:
O Acordo da harmonização salarial, altera o horário escrito no Contrato Individual de Trabalho?
E também retira o subsídio das assiduidades e afins?
A nossa resposta é: NÃO.
A única alteração do Acordo é integrar os CIT na tabela remuneratória do DL 122/2010 de 11 de novembro. (José Azevedo)

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

MAIS ANEURISMA DE DAVID D - FIM DA MORTE POR ANEURISMA EM PORTUGAL



Breves reflexões sobre os factos e a sua análise à luz da minha experiência adquirida ao longo de 10 anos como Enf.º Chefe do Serviço de Urgências do Hospital de São João e como Sindicalista de 1972 até hoje.
David Duarte, (DD) morreu; paz à sua alma.
Qual a lição a tirar do seu sacrifício involuntário?
1 - É revoltante o aproveitamento governamental desta morte, que, providencialmente, desviou as atenções de outras vergonhas, como; a do orçamento rectificativo, a do salário mínimo, a consistência do acordo, à esquerda, para ganhar tempo e votos(?), e não só.

2 - [....A indisponibilidade para turnos extraordinários aos sábados e domingos partiu dos Enfermeiros 'arrastando' o resto da equipa. Em números redondos, a recusa deveu-se a valores como 130€ por 24 horas de prevenção (sem presença física no hospital - (artº 9º do DL 62/79 de 30 de Março) -) por cada dia de fim de semana no caso dos enfermeiros e de 250€ para os médicos. Isto é, perto de metade do que era pago antes dos cortes feitos pela coligação PSD-CDS (era aqui que queriam chegar, para fazer esquecer o que Sócrates, já tinha feito, nas mesmas coisas e sem troika) e que a morte de David Duarte veio devolver às equipas de São José e Santa Maria (do Menino Jesus, do burrinho e da vaquinha - Companhia de Jesus), até aqui igualmente sem neurocirurgia vascular aos sábados e domingos....] (Vera Lúcia Arreigoso, in Expresso, 24Dez2015 - clique no link abaixo). 
Há, aqui, uns certos exageros; bem gostaríamos que os Enfermeiros tivessem consciência do seu poder de influência, na acção, neste, e em todos os casos de assistência sanitária. Neste caso, estão a ser usados, como bode expiatório, obviamente.
Se estavam em regime de prevenção, que é voluntário, a recusa à responsabilidade assumida, pois que a responsabilidade está acima da obediência (e este é que é, e só este, um problema ético, logo do foro das Ordens Profissionais e não o dos €€€) é um crime do MP, antes de mais, a quem o Hospital de São José deve denunciar. Só um pré-aviso de greve dos Enfermeiros e do Sindicato, que os representa, pode impedir o recurso ao crime público, sejam quem forem os responsáveis, pelo arrasto, pode libertar os autores do crime dessa greve não decretada...

3 - Os Enfermeiros com poder de arrasto dos "invertebrados" que os circundam, não são sócios dos Sindicato dos Enfermeiros-SE. Se são associados do SEP/CGTP/in, a culpa desta actuação abusiva, que reprovamos (sol na eira e chuva no nabal) é do actual Primeiro-ministro, que não conseguiu impedir esta duplicidade comportamental dos seus apoiantes parlamentares, pois é do domínio público que o PCP é dirigido, por baixo e por cima da mesa, pela CGTP/in. Já foi o contrário. 
E o Sr. PM, com as pressas, esqueceu-se da possibilidade deste comunismo, à portuguesa, ter um comportamento, na rua, no campo e outro, na secretaria (ver comportamento da CGTP/in, no CCS e salário mínimo e TSU...).

4 - Para o bastonário dos Médicos, as mortes em São José "são uma consequência dos cortes cegos, insensatos e absurdos", acusa José Manuel Silva.
Nelson Coimbra, dirigente da Ordem dos Enfermeiros, defende ainda que "a equipa é altamente diferenciada e tem de ser paga como tal, lamentando "ter sido necessário este caso vir a público para resolver o problema".  (ibidem - Expresso...)

Estes representantes das Ordens dos Médicos e dos Enfermeiros demonstram a mais deplorável ignorância, para os cargos que ocupam.
Em vez de falarem da responsabilidade profissional e ética que impende sobre os faltosos ao "seu dever profissional e responsabilidade civil", justificam-nos com uns quantos €€€, que é campo de acção sindical. Mas a esses sindicatos ninguém os ouve, ontem, como hoje. Isto não desculpa os cortes cegos feitos por cegos; é claro.
Mas, também, não desculpa a responsabilidade profissional de Enfermeiros e Médicos, que misturam deveres éticos, com preços do trabalho. Com os maus hábitos adquiridos, nem se preocupam em respeitar o estatuto, que as enforma, e as proíbe de se meterem, em assuntos de tabelas de honorários. Mais ignorância...

Quanto custa uma vida?
Não é do senso comum, que a vida "não tem preço"? 
Ora, deixar extinguir uma vida, por arrasto dos Enfermeiros sócios do SEP-CGTP/in, (?), devido a uma redução nos pagamentos suplementares da tabela e as Ordens fundamentarem as justificações, que não têm, com a tabela de honorários, nas quais as Ordens Profissionais estão impedidas de se imiscuírem, é o fim da decência e o princípio do caos.
Já nem é preciso lembrar-lhes que esse é o preceituado para a ação sindical, porque não nos entenderiam:
os filhotes da CGTP/in, porque os sindicatos são para os golas azuis e as Ordens  são para os golas brancas

5 - De tão distraídos que têm andado, entregues às suas confusões, estes Ordinários nem se apercebem que estão a enredar-se, com matérias fora do seu alcance, pois o MDP/CDE, que tinha uma secção de "golas brancas", já não existe; agora é tudo azul, como o céu. Por isso, destruíram a carreira de Enfermeiro. É uma tristeza, porque não só se enganam, como enganam os mal-informados.
Ainda se fosse o Sindicato a dizer que; "para tal ganhito tal trabalhito"... ainda se desculparia de certo modo, mas as Ordens, Senhor, por que lhes dais tão mau odor?
Por que fedem assim!...

6 - Como não há duas sem três; {o Sr. Ministro da Saúde - ACF, já ordenou ao CHLC e à IGAS a abertura de inquéritos e, o próprio Ministério Público, vai investigar. 
"É inaceitável o que aconteceu e não pode voltar a acontecer", disse ACF. O Ministro afirma que "a restrição financeira da saúde, em alguns casos, foi longe de mais" sublinhando , no entanto, que, neste caso, não se trata apenas de uma questão financeira". Faltou organização, como a que tem existido em outros hospitais com a técnica"}. (Ibidem - Expresso)

[Por isso, vão para a rua, deixando as vagas, por acaso, estrategicamente, situadas, para os da ministerial confiança, donde resulta o chinfrim jornalista, que custou boa massa ao ministério, (auditem isto...), mas os fins justificam os meios, digo eu, José.].

Os responsáveis mais directos pediram a demissão dos cargos, por discordarem da politização da situação, e não por outra razão e pressentirem a necessidade de a dita politização (leiam farsa), se destinar a encontrar um motivo real ou fictício, no caso presente, que pareça o justificativo das demissões, numa ética, que não é a do actual governo, onde os fins... justificam as atitudes, como aconteceu com a troika: Costa, Catarina, Jerónimo.

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Post Scriptum - Até tu, prezado Mário Crespo, com tanta experiência, dignidade e idade, engoliste a farsa montada pelo Governo actual, para arranjar lugares, para os seus, em pontos estratégicos, servindo-se e aproveitando toscamente, a desgraça alheia.
Só morre quem está vivo. e quando o mal é de morte, o remédio é chorar o defunto e escrever cartas dolentes, a pedido, ou não, à comunicação social. Não se morre por falta de médico; morre-se, quando o mal é de morte. Se assim não fosse, os Médicos nunca morriam, não é?
Seriam imortais, porque estão, sempre, sempre, na presença de um Médico.
Há muitos, muitos anos, os franceses colocam, num cantinho escuro e muito quietinhos, os traumatizados da base do crânio, porque o abalamento do tronco braquiocefálico, por pequeno que seja, faz parar tudo, que depende do sistema parassimpático (ou antipático, porque não o controlamos).
As causas da morte, que foram emitidas são tão rotas, tão esfarrapadas, que me obrigam a soltar um ligeiro grito de silenciosa revolta a que ninguém liga, como acontece com as mensagens postas, em garrafas, lançadas ao mar.
Uma autópsia bem feita, que vá desde as overdoses à fragilidade vascular, podem falar mais verdade, do que os aproveitadores e aproveitamentos comoventes do sucedido.
Lembro o inditoso Shumaker, que não foi por falta de assistência médica e de enfermeira, que vegeta, sofrendo: é um morto-vivo, ou vice-versa, para quem preferir.

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A REVOLTA DA DOUTORA ROSINA

A resposta que se impõe por Rosina Andrade: Mulher, Médica, Anestesista, inteligente, sagaz, dona de um humor mordaz e acutilante, companheira de muitas e muitas horas boas e outras não tantas menos boas nos cuidados aos doentes neurocriticos e seus familiares.
"JÁ CHEGA !

Na "ressaca" de uma consoada que pela primeira vez em 6 anos consecutivos pude festejar junto da família, reservo uns momentos para maçar quem quiser ler estes desabafos.
A maior parte dos meus amigos do FB conhece-me bem, porque muitos são mais do que amigos virtuais. Conhecem o meu modo de estar por vezes truculento, o espirito não alinhado e rebelde, a intolerância para o disparate e a displicência, a falta de corporativismo. Costumam resumir tudo na designação "mau feitio" . Os mais contaminados pelos eufemismos em voga dirão que tenho um baixo quociente de inteligência emocional. Não discordo do veredicto , prefiro ter mau feitio a ter mau carácter e o meu QI (não emocional) avaliado, em tempos de juventude, em 138 e 140, parece afastar-me dos níveis de debilidade e embotamento de raciocínio.
Vem tudo isto a propósito.de que sendo médica me sinto diariamente agredida, insultada e difamada pelos profissionais do "eu acho" e do "eles deviam".
Para quem me conheça menos eu apresento-me ;
médica anestesista, 57 anos, 31 de profissão dedicada nos últimos 14 anos sobretudo à Neuro-anestesia, 10 dos quais no H. de S.José.
Para esclarecimento de muitos que transformam os honorários médicos em mistérios de sociedades secretas, a minha remuneração na categoria de assistente hospitalar graduada, com exclusividade na função publica, horário de 42 horas semanais (actualmente 39, pela redução anual de 1 hora após os 55 anos) é de 4107€ (preço hora ~ 22€) dos quais receberei no fim do mês ~ 2400 € (preço hora ~ 9€). A condição contratual de exclusividade obriga-me à prestação de mais 12 horas extra semanais se a instituição hospitalar o exigir ( e exige), resultando em 53 horas semanais, das quais 24 são um período continuo. Posso ser solicitada (e pressionada) a realizar mais horas semanais . Actualmente, face à carência de recursos na área de anestesiologia, perfaço em média 70 horas semanais (39 em actividade de bloco operatório programado, o resto em urgência) e tenho 1 fim de semana por mês sem urgência, (nos meses mais compridos posso chegar à loucura de ter 2 ). Por lei poderia não realizar trabalho nocturno a partir dos 50 anos e ter isenção total de trabalho de urgência a partir dos 55. Se eu e os meus colegas do H de Faro cumprirmos a lei do trabalho à risca, a urgência cirúrgica será encerrada porque restam 3 elementos para garantir o apoio anestésico 24/24h 7 dias por semana. Em resumo com o ordenado base e as horas acrescidas, recordo - 70 horas semanais- a minha remuneração fica em - 3800€. Acima da média dos ordenados em Portugal ? Sem dúvida ! Mas 70 horas representam a soma do horário de dois médicos sem exclusividade que é de 35 h.
Portanto meus senhores os malandros dos médicos trabalham ao fim de semana, mesmo quando a lei os isenta - e também trabalham nos feriados.
Perguntam alguns porque têm os médicos que ganhar mais do os maquinistas do metro, do que os policias, do que os licenciados em geral ;
Faço um pequeno desvio para falar das forças da ordem . Os que têm como dever zelar pela nossa segurança são talvez a única categoria profissional mais odiada do que os médicos. Desprestigiados, mal remunerados, sujeitos a julgamentos e em alguns casos penas de prisão quando cumprem a missão que lhes é profissionalmente exigida. Ridículo e afrontoso que um policia tenha que pagar o próprio equipamento, surreal que se responsabilize por danos em viaturas usadas em serviço. Não há salário demasiado alto para quem arrisca a vida para que a nossa esteja segura. Existem abusos, sabemos que sim, protestamos contra a caça à multa e algumas arbitrariedades de que somos vitimas. Mas imagino como será difícil ver uma e outra vez sair pela porta da frente o marginal que horas antes detiveram, não raramente arriscando a vida, e que um juiz, de interpretação mais liberal da lei, põe e liberdade.
Vivemos numa sociedade acéfala de faz de conta, de inversão de valores, do politicamente correcto, do fundamentalismo da tolerância, dos chavões momentâneos gritados em ondas emocionais bem orquestradas, em proveito próprio, pelos bonecreiros da política.
Somos formatados para pensar o que os media querem que pensemos, sem contraditório, sem interrogação, adormecidos e embalados em conceitos pre fabricados
De uma era em que as saídas profissionais se estruturavam na adolescência, em que ser "bom aluno" nos permitia antecipar um vasto leque de escolhas, passamos para a era do "todos licenciados mas poucos com emprego" A iniciativa privada rejubilou com a possibilidade de fazer crescer universidades como cogumelos que vomitam todos os anos ufanos jovens diplomados em áreas de denominação exótica e cuja utilidade social carece de ser provada. Orgulhosos progenitores, que gastaram "uma nota preta" em mensalidades, exibem orgulhosos os filhos doutores a quem está reservado o desemprego, a emigração , o prolongar da agonia (deles e dos pais) em mestrados tão úteis quanto as licenciaturas ou, injustiça das injustiças, aceitar um trabalho abaixo do que é devido a um "licenciado".
A questão agrava-se com as licenciaturas modelo expresso, em que plantar uma árvore no dia da dita ou assistir a 3 comícios, pode dar direito a equivalência numa cadeira e com o padrinho certo, chegar até ministro ou primeiro ministro. Nivela-se por baixo no esforço, mas pretende-se nivelar por alto nos direitos.
Em Medicina não se obtêm créditos por colar pensos rápidos ou assistir a todas as temporadas do Dr. House. Prescinde-se de muitas saídas com os amigos, de muitas horas de divertimento.
Num mundo governado pelos licenciados fast banaliza-se o trabalho acrescido que implica atingir os patamares cimeiros da elite universitária. Sim ELITE, sem falsas modéstias, sem sentimentos de culpa.
Sim, sabemos o que nos espera, as horas de estudo intenso que se prolongam após a licenciatura. Sim, adoptamos o juramento de Hipocrates, de que muitos falam e poucos fora da área médica conhecem. Mas saberá quem nos diaboliza, como é morrer por dentro cada vez que temos que anunciar um desfecho trágico, saberá quem nos acusa de sermos frios e distantes, como exorcizamos os nossos demónios e os nossos medos, porque ninguém como nós entende a fragilidade da vida e o pouco que é necessário para que tudo se desmorone ? Entenderá quem tanto nos critica, como é recomeçar uma e outra vez esta luta desigual contra o fatalismo "do destino", da "sua hora" ou da "vontade de Deus" ?
Na ordem social das coisas considerava-se adequado remunerar de acordo com o contributo para o bem comum e a importância desse papel na sociedade. Hoje somos todos licenciados, mas um engraxador licenciado continuará a engraxar sapatos (e muita ciência é necessária na arte de engraxar), e um médico continuará a tratar doentes. Terão a mesma relevância social ? Terá a função de maquinista do metro, para usar uma comparação que li na imprensa, equiparação à actividade clinica ? Existe um facto muito simples que permite dar a resposta; qualquer médico em 6 meses, vá lá, um ano de treino, será um apto engraxador ou condutor de metro, o inverso é verdade?
O endeusamento de que alguns falam vem da relação amor/ódio que a sociedade sempre estabeleceu com a classe médica. Como disse no inicio sou pouco corporativa e tenho plena consciência de que na minha, como em todas as profissões, existe muita erva daninha. Cometo erros como todos. Só não os comete quem não se aproxima dos doentes. Entre erro e negligência há um diferença abissal ; cometemos um erro, quando escolhemos uma estratégia terapêutica que julgávamos a mais adequada e a evolução revelou que não era, cometemos um erro quando equacionamos mal um diagnostico ou o timing de uma intervenção. Somos negligentes quando nos estamos nas tintas para reflectir sobre uma solução diagnostica ou terapêutica e optamos pelo que nos dá menos trabalho ou melhor nos remunera. O erro não deverá ser repetido se as mesmas circunstâncias ocorrerem. Chama-se experiência e não envolve só os mais novos. A negligência deve ser severamente punida. Convém não confundir estes dois conceitos.
Neste tu cá tu lá da democracia porreiraça, temos um franja da população formada em Medicina na Anatomia de Grey, nos diagnósticos surreais do Dr. House e na pesquisa Googleniana frequente. Surgem assim os opinadores que restruturam uma e outra vez o SNS e que a darem-lhes poder acrescentariam ás leis que nos regem, uma alínea especial para a pena de morte a aplicar aos médicos.
Estranhamente não raro são elevados aos píncaros da fama, ao Olimpo dos deuses da medicina, clínicos a quem os pares não confiariam um panarício. São normalmente médicos de sorriso fácil, palmadinha nas costas, que gostam de introduzir uma nota de ansiedade acrescida antecipando diagnósticos catastróficos que "felizmente não se confirmam porque chegámos a tempo", que incutem no doente o sentimento de auto congratulação pela decisão tomada, pelo dinheiro investido, pelo acerto da escolha. São os médicos do "principio de enfarte" , do "principio de AVC"', do "principio de pneumonia", entidades patológicas desconhecias dos tratados universais de medicina mas que se perpetuam de boca em boca disseminando a fama e a simpatia do senhor doutor. São os médicos das longas prescrições e muito mais longas requisições de exames.
É diferente no SNS puro e duro, onde o sorriso se apaga ao fim de meia-hora de luta com o sistema informático que pretende modernizar hospitais com servidores que mal aguentam a instalação do Tetris. Surgem os médicos carrancudos de farda amarrotada, 2 números acima ou abaixo do normal, porque "é o que há", olharentos por privação de sono, resignados ás avarias e falta de equipamento numa gincana quotidiana para ultrapassar o "não há", não compraram" ou "já não vem mais". Que chatice ser neste antro para indigentes que são despejados os que optam pela saúde VIP dos hospitais privados, quando o plafond se esgota, as economias desapareceram e a casa já está à venda. O sorriso fácil esmorece e a palmadinha nas costas vira empurrãozinho firme. O enfarte já ultrapassou o principio e aproxima-se do fim.
Negam-nos até o podermos tratar doentes, agora tratamos "utentes" e até "clientes", nesta lógica de gestor que o hospital e o hipermercado se gerem do mesmo modo. Os resultados estão à vista.
Integrei como anestesista a equipa de neurocirurgia vascular de S.José, que só abandonei por ter mudado de hospital. Quem me conhece sabe que se necessário trabalharia de borla para salvar uma vida. Fi-lo muitas vezes noutros contextos. Tenho a certeza que todos os elementos que integravam a equipa o fariam também. O que o publico e os potenciais doentes têm que entender é que o que ficou destruído com os cortes cegos e surdos, foi a estrutura complexa que envolve o diagnostico e a terapêutica destes doentes e que não pode ser exigido a profissionais de saúde que literalmente paguem para trabalhar como acontecia com a equipa de enfermagem. Nenhuma disponibilidade e boa vontade isoladas, poderia remendar o assunto. A fatalidade que vitimou o jovem David era uma fatalidade anunciada. Em revolta, alguns de nós desejaram que tivesse atingido quem permaneceu cego e surdo aos avisos e às propostas, o Sr ministro ou o sociopata que o assessorava. Teria surgido mis cedo a solução.
Não, não somos bem pagos, pelo menos no SNS. e sim, somos uma profissão de elite. Com muito orgulho.
Um bom ano de 2016."
(NB: grande Mulher e Grande Profissional.
Em meu modesto entender aqui está uma pessoa de quem passo a dizer bem.
Faz parte daquele reduzido número de pessoas que não tendo nascido para endireitar o mundo, quando ele passa torto por perto, dão-lhe o seu pontapé.
Infelizmente não é muito numeroso, mas dá para apimentar, condimentando a comida reles que nos servem, às vezes, não poucas.

Vale a pena estar abrangido pelos seus votos de Bom Ano 2016. (José Azevedo)

Com amizade e votos de Feliz Natal,
José Azevedo