sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

SÓ FALTAVA ESTE ARMAR EM VÍTIMA!...



aos médicos?

O Ministério da Saúde tem conduzido uma campanha de descredibilização dos médicos para procurar ocultar a sua responsabilidade na desorganização e diminuição da capacidade de resposta do SNS aos legítimos direitos dos doentes.





A 30 de Dezembro, o principal título de primeira capa do PÚBLICO era 720 euros por dia ainda não atraíram médicos ao hospital Amadora-Sintra e o título interior afirmava Amadora-Sintra ainda não conseguiu contratar médicos mesmo a 30 euros por hora.
A maioria das pessoas apenas lê títulos e os jornalistas, que são pessoas informadas e inteligentes, sabem que ambos os títulos mentem, pelo que a intenção de enganar as pessoas é explícita e deliberada.
Efectivamente, o texto nunca refere que esse valor é pago às empresas intermediárias e não aos médicos, que recebem muito menos. Por outro lado, para o leitor comum, um dia de trabalho são oito horas, não 24 horas de trabalho intenso, complexo, sob enorme pressão e sem possibilidade de erro.
Na verdade, o que o médico recebe, descontado o lucro da empresa intermediária e depois de impostos, são cerca de 288 euros por 24 horas de um trabalho seguido, stressante e extenuante, montante a que ainda tem de deduzir as suas despesas. Qualquer mecânico ganha muito mais e com muito menos trabalho, cansaço e responsabilidade!
A 31 de Dezembro, outro jornal diário escolheu para principal título da capaFarmacêuticas gastam 60 milhões com médicos. O título mente descaradamente, pois, no texto do artigo, correctamente, já se fala também, como receptores desses apoios, em sociedades científicas, associações de doentes, farmacêuticos, estudos de investigação, etc.
Então, porque é que o jornal pretendeu, deliberadamente, passar a mensagem, para quem apenas lê títulos nos escaparates e para os que vêem apenas a primeira página (nomeadamente em todas as televisões), de que o financiamento era exclusivamente para médicos, alimentando subliminarmente, de forma potenciada, a ideia de promiscuidade entre indústria e médicos?
Estes são dois exemplos bem concretos e recentes de como, regularmente, saem notícias na comunicação social cujos títulos são construídos propositadamente para, junto da opinião pública, afectar a dignidade e honorabilidade de todos médicos.
A quem serve este comportamento de alguma comunicação social? Apenas ao Ministério da Saúde, cujos assessores de imprensa, principescamente remunerados, têm conduzido uma campanha de descredibilização dos médicos para procurar ocultar a responsabilidade do ministério na desorganização e diminuição da capacidade de resposta do SNS aos legítimos direitos dos doentes. As situações reportadas sobre a enorme congestão das urgências hospitalares são perfeitamente terceiro-mundistas e inaceitáveis. Há doentes que morrem sem a devida assistência.
A notícia do PÚBLICO ignora completamente a grave responsabilidade do Ministério da Saúde em não permitir que o Hospital Amadora-Sintra tivesse contratado atempadamente os profissionais de que necessitava para responder ao previsível maior afluxo de doentes, até porque permitiu o encerramento dos centros de saúde vários dias seguidos. Além de que não é na véspera de períodos festivos que se tenta desesperadamente contratar médicos, certamente com a sua vida já programada de forma diferente, e o preço/hora real de um médico em serviço de urgência, um dos trabalhos mais exigentes de qualquer profissão, é absurdamente baixo!
O PÚBLICO omitiu ainda as causas profundas da permanente desorganização e congestão das urgências hospitalares, o que não acontecia até há poucos anos, apesar de o ministério dizer que há cada vez mais médicos no SNS. A que se deve esta contradição, afinal? Precisamente às medidas erradas, contraproducentes e de má gestão tomadas por este Ministério da Saúde! Nomeadamente a redução do tempo de abertura dos centros de saúde, os bloqueios à Reforma dos Cuidados de Saúde Primários, o facto de os hospitais estarem proibidos de contratar directamente médicos em prestação de serviços e de os contratos com as empresas, completamente protegidas pelo Senhor Ministro, não conterem cláusulas de salvaguarda dos dias festivos.
As falhas das empresas já se arrastam impunemente há anos e, apesar de repetidamente avisado pela Ordem dos Médicos, só agora é que o ministro da Saúde vem dizer para a comunicação social que vai aplicar multas...
O outro jornal diário ignorou completamente que se não fossem os apoios da indústria farmacêutica, que são legais e transparentes, a actualização e investigação científica dos médicos e outros profissionais seria gravemente afectada, com prejuízo dos doentes, para além de que as sociedades científicas e associações de doentes teriam praticamente de fechar as portas, porque o Ministério da Saúde não assume as suas obrigações e não disponibiliza quaisquer apoios significativos.

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